16h00 do dia 20 de Abril de 2008, chego esbaforida à porta B30 do Terminal 1 do aeroporto de Barajas - Madrid. Ainda faltavam cerca de 15 minutos para o embarque, (na realidade demorou mais de 1/2 hora), mas já existia uma fila gigante de Romenos, ansiosos por embarcar. Pensei para mim mesma que não tinha forças para ficar ali de pé não sei quanto tempo e, ainda ter que levar com encontrões e histerismo para entrar o mais rapidamente no avião. Preferi ficar para último e entrar em paz e sossego, afinal o avião não ia descolar sem mim e com certeza não iria ter que ir de pé a viagem toda. Mesmo assim não me consegui livrar de uns empurrões, de umas calcadelas e afins... de repente avisto o local ideal, numa fila de 3 lugares, estava um senhor junto à janela (estranhamente sossegado e recatado para romeno) e tinha os outros dois lugares livres. Sentei-me junto ao corredor, na esperança que ninguém ocupasse o lugar que sobrava. (Sim, eu sei, às vezes sonho demais!) Obviamente, houve alguém que se sentou naquele lugar e cuja família estava no banco da frente. Adormeci... o avião levantou voo, as hospedeiras deambularam pelos corredores com o bar bem como com a loja de perfumes... 2h se passaram.
Acordo e começo a ouvir sons estranhos, que rapidamente se começam a amontoar dentro da minha cabeça, enquanto tentava abrir bem os olhos, só conseguia pensar que secalhar ainda estava a sonhar. Mas não! O barulho começava a tornar-se ensurdecedor e o meu 2º pensamento foi: "Ok, ainda estás a acordar por isso todos os sons te fazem confusão...", infelizmente não era isso! Finalmente estava completamente acordada e comecei a observar todo o avião. A minha cadeira abanava como se não houvesse amanhã, o senhor que estava sentado ao meu lado brincava com a filha e resolvia deixar-se cair na cadeira esquecendo que iria perturbar todas as outras pessoas da fila. Estava um barulho terrível, pior que um concerto de uma boysband cheio de míudas de 12 anos aos gritos. As pessoas falavam de uma ponta do avião para a outra!!! Havia crianças a correr por todo o corredor, a brincar às caçadinhas, a rebolar pelo chão fora. Havia outros míudos que saltavam insistentemente em cima das cadeiras. O chão tinha garrafas espalhadas bem como restos de comida. Só os ouvia a perguntar às hospedeiras o que é que havia pa beber: whisky, vodka...? Eu estava a viver um filme de terror... comecei a sentir-me enclausurada dentro de um avião com uma espécie de animal pouco racional. Resolvi ligar o meu ipod, ouvir música para me acalmar e ler a Boca do Inferno de Ricardo Araújo Pereira para me alegrar... o meu último pensamento antes de me abstrair de tudo aquilo foi: " Só espero que isto não se transforme num Lost, viver numa ilha deserta, com acontecimentos estranhos e com um monte de desconhecidos, ainda se aguenta! Agora viver com esta, vá, diz que é uma espécie de gente é que nem pensar!!!!"